Somatização

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A existência de conceitos como a conversão, os transtornos somatoformes, e muitos outros, torna necessário uma melhor delimitação.

A somatização corresponde a uma tendência de experimentar e de comunicar distúrbios e sintomas somáticos não explicados pelos achados patológicos, atribuí-los a doenças físicas e procurar ajuda médica para eles. É usualmente assumido que essa tendência torna-se manifesta em resposta a estresse psicossocial acarretado por situações e fatos da vida particularmente importantes para o indivíduo.

A somatização pode ocorrer em variadas formas:
a) como um modo de expressar-se (uma variação individual normal);
b) indicando uma doença orgânica ainda não diagnosticada;
c) como parte de outras patologias psiquiátricas (ex: depressão);
d) como um transtorno somatoforme.

As somatizações são muito freqüentes (muito mais do que os transtornos somatoformes propriamente ditos, com os quais não devem ser confundidas), sendo responsáveis por um número desproporcionalmente alto de consultas médicas e gerando importantes gastos no sistema de saúde.

Embora qualquer pessoa possa somatizar – se certo limiar de desconforto psíquico for ultrapassado – os somatizadores típicos tendem a se mostrar bastante “concretos”; indicam pobreza da vida afetiva e raramente relatam seus sonhos. Frequentam principalmente os serviços médicos de atenção primária e não os serviços psiquiátricos.

A conversão, conceito originário da psicanálise, corresponde a um mecanismo de formação de sintomas próprios da histeria. Consiste numa transposição de um conflito psíquico (e numa tentativa de resolução) em sintomas somáticos, basicamente tomando lugar nos sistemas neuromuscular voluntário (paralisias, por exemplo) ou sensório-perceptivo (anestesias, por exemplo). Sua característica básica é ter uma significação simbólica, ou seja, o corpo exprime representações que foram recalcadas. Freud introduziu esse termo referindo-se ao “salto do psíquico para a inervação somática”.

Os transtornos somatoformes são uma categoria diagnóstica recente(1980).Na CID-10 compreendem 7 diferentes entidades clínicas. Caracterizam-se pela presença por longo tempo (meses ou anos) de queixas freqüentes de sintomatologia física, que sugerem a presença de um substrato orgânico, mas que não são totalmente explicadas por nenhuma das patologias orgânicas conhecidas. Também não são totalmente explicáveis pelos efeitos diretos decorrentes da utilização de uma substância (drogas, álcool), nem por um outro transtorno mental (transtorno do pânico, por exemplo). Mesmo na presença de doenças orgânicas comprovadamente diagnosticadas, não existe uma explicação lógica para toda a sintomatologia referida.

Outra característica marcante desses transtornos é a dificuldade no estabelecimento de um vínculo médico-paciente positivo, em decorrência de um questionamento constante por parte do paciente em relação às assertivas emitidas pelo profissional, principalmente aquelas referentes à provável inexistência de substrato orgânico detectável. Em muitos casos existem transtornos de personalidade associados.

Embora perante uma visão inicial essas diferenciações possam pouco representar, é somente a partir delas que se pode entender os pacientes em suas especificidades, dando-lhes assim uma abordagem mais adequada e efetiva. O esforço da diferenciação de tais quadros, certamente, reverterá em ganho para os médicos (aprimoramento dos conhecimentos) e para os pacientes (melhor tratamento).

M.D.Juliano Szulc Nogara
Psiquiatra Cremers 27313
Esp.Dep.Química UNIFESP/EPM